Sentado em uma cadeira acima de uma plateia lotada, o bispo Inaldo Silva, da Igreja Universal do Reino de Deus, levanta a mão direita para o alto enquanto o público vibra ao som da música “A volta por cima”, da cantora gospel e pastora Flordelis, uma das líderes de uma comunidade evangélica que leva o seu nome. A cena – comum, se estivéssemos falando de algum templo – aconteceu no plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde o bispo também cumpre um mandato de vereador.
O bispo é vereador em primeiro mandato, eleito pelo PRB, mesmo partido do prefeito do Rio, Marcelo Crivella.
No primeiro vídeo publicado, é possível ver Inaldo Silva sentado da cadeira que é usada nas sessões plenárias pelo presidente da Câmara, com flores em sua volta. Na mesa diretora, aparecem a cantora Flordelis e Eduardo Lopes (PRB), suplente que assumiu a vaga no Senado de Crivella após ele ter sido eleito prefeito do Rio.
Na outra postagem, o público que lotou as galerias vibra ainda mais quando um cantor gospel se apresenta no púlpito que é usado pelos vereadores para realizarem seus discursos. Como a qualidade do som não é muito boa, fica difícil identificar a letra da música, mas é possível ouvir alguns “aleluias”.
Os encontros interdenominacionais são realizados pela Igreja Universal para reunir diversos líderes evangélicos. No ano passado, por exemplo, o evento foi realizado no Templo de Salomão, em São Paulo. O coordenador era exatamente o bispo Inaldo Silva.
O vereador é bastante ligado ao prefeito Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo, líder da Universal. Sua mulher, Sandra Pereira Ramos da Silva, chegou a trabalhar no gabinete de Crivella no Senado, com salário de mais de R$ 15 mil.
Além dos vídeos publicados por Inaldo Silva, a cantora e pastora Flordelis também publicou em sua página um discurso que fez na mesa diretora da Câmara condenando a exposição no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, que gerou reação de setores conservadores após a divulgação de imagens de uma criança numa sala onde havia a performance com um homem nu:
“É uma exposição que eles estão chamando de arte, mas eu, como pastora, como mãe, como mulher, chamo de pedofilia… Nós somos protestantes e temos que protestar contra as coisas que estão erradas em nossa volta. Está na hora de o povo de Deus se levantar”.
Flordelis termina o discurso falando da força dos evangélicos na política:
“É hora de nós mostrarmos a nossa força. Já estamos mostrando isso na época das eleições. Nunca houve tantos candidatos evangélicos que foram eleitos. E agora está na hora de continuarmos mostrando a nossa força. Vamos embora para a rua, minha gente. Vamos dar as mãos, vamos gritar que essa nação não pertence a Satanás, ela é do senhor Jesus!”
Frente evangélica tem 40% do Congresso
Atualmente, entre os 51 vereadores da Câmara do Rio, três são do PRB, partido de Marcelo Crivella e de forte ligação com a Igreja Universal: além de Inaldo Silva, Tânia Bastos e João Mendes de Jesus. Há pelo menos outros dois com forte ligação com os evangélicos e as pautas conservadoras: Otoni de Paula (PSC) e Alexandre Isquierdo (DEM), este bastante ligado ao pastor Silas Malafaia.
A composição do Congresso Nacional, por sua vez, mostra a força dos evangélicos. A frente parlamentar que reúne o setor tem nada menos do que 198 deputados. Ou seja, são quase 40% dos 513 que têm mandato na Casa. Eles estão na linha de frente de pautas conservadoras como a “cura gay”, aliando-se inclusive a grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL).