Ritual de candomblé acontece dentro de Igreja católica: “oportunidade para diálogo”


Um grupo de quatro membros de uma casa de candomblé fez um ritual dentro da igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Sobradinho, cidade satélite do Distrito Federal, depois da missa das 8h do último domingo (18).

O vídeo do rito circula pelas redes sociais.



Em vídeo, o pároco, padre Manuel Pérez Candela, que não estava presente disse ter assistido o vídeo “com perplexidade, com indignação”.

“De ver que já não se respeita mais, a fé, a crença das outras religiões e desafortunadamente entre o intervalo das Missas das 8 da manhã e das 10 da manhã, desobedecendo o pedido dos ministros extraordinários que com tanto amor e carinho e educação chegaram a eles pedindo que por favor saíssem. Que não se podiam fazer esse tipo de bênção ou ritual dentro da Igreja. Desafortunadamente eles desobedeceram”, relata o padre.

Segundo o padre, “não aconteceu nenhuma profanação”. “Eles entraram para pedir uma bênção, não sei bem como funciona a fé do candomblé, nem sua religião. Mas depois de quatro minutos eles saíram e foram embora”, disse o padre.

“Se alguém ficou magoado, machucado por esta situação, eu quero que fiquem tranquilos, que não aconteceu nenhuma profanação e que tomaremos providência”.

A assessoria de imprensa da arquidiocese de Brasília informou à ACI Digital que o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar cardeal Costa “não vai comentar sobre o assunto”, que “já foi resolvido entre as partes”.

A ACI DIGITAL também falou com o presidente da Rede Afrobrasileira Sociocultural, Alexandre Silveira de Souza. Segundo Souza, o que ocorreu na igreja foi a finalização do ritual de iniciação de duas pessoas. “Quando saem do confinamento e que estavam, são apresentados em vários lugares, e um deles é dentro da Igreja Católica, para receber uma bênção de purificação”, disse Souza.

Para ele, o problema “foi uma falta de diálogo”. Souza enviou uma carta dele e do presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira, a dom Paulo.

Na carta dizem que “alguns membros de religiosidade afro brasileira estiveram presentes na mesma no intervalo da missa com a intenção de apresentar os iniciados à Igreja, mas não procederam o devido diálogo com o padre responsável, gerando uma situação de constrangimento para com os fiéis ali presentes, e demais membros da Igreja”.

Eles ainda esclarecem por meio da carta conjunta que “algumas casas de tradição afro brasileira, por questões de tradição de casas matrizes, conduzem os membros recém iniciados para participação de uma missa, para desta forma “batiza-los” e receberem às bênçãos do sacerdote, neste ato eles louvam o altar ali presente e recebem a hóstia consagrada, ato este rotineiro na cidade de Salvador na Bahia, aonde algumas casas inclusive celebram missas em conjunto nas Igrejas locais”.

Ritual de candomblé em igreja é oportunidade para que o diálogo cresça, diz cardeal arcebispo de Brasília

“Eu espero que a partir deste fato se cresça cada vez mais o diálogo entre nós, o diálogo entre os líderes religiosos e principalmente o diálogo entre os líderes religiosos para a construção do bem, a construção da paz, a construção de um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno”, disse o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cesar cardeal Costa, em vídeo divulgado ontem (21). O fato foi a invasão de uma igreja em Sobradinho (DF) por membros de uma casa de candomblé para um ritual Sobradinho.

“Este fato causou um desconforto para a sociedade local, isso é uma verdade que eu não posso negar”, diz o cardeal no vídeo. “Mas Santo Agostinho disse que do mal é preciso tirar um bem. E que bem nós devemos tirar deste fato? A necessidade do diálogo entre os líderes religiosos, a necessidade do diálogo para a paz. Para paz entre as religiões e para paz para a sociedade”.

A invasão foi registrada em um vídeo por uma fiel que estava na igreja no momento. É possível ouvir a fiel murmurando enquanto filma: “o sangue de Jesus tem poder”, Senhor Jesus tenha misericórdia de todos nós” e “Vinde Senhor Jesus”.

Para dom Paulo “o caminho da sociedade é um caminho de respeito, de diálogo. Jamais a intolerância! Seja na vida da sociedade, seja intolerância religiosa”.

O cardeal disse ter recebido uma carta conjunta emitida pelo presidente da Rede Afrobrasileira Sociocultural, Alexandre Silveira de Souza e do presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira.

No vídeo, dom Paulo, lê o final da carta: “Nos colocamos à inteira disposição para maiores esclarecimentos e também para construção de pautas em prol de uma convivência harmônica e reciproca que sempre marcou os diálogos das casas de Matriz Afro Brasileira com a Igreja Católica”.

“É esse caminho que queremos trilhar”, disse dom Paulo Cesar.
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